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Quem é Jayme Seixas que completa 94 anos nesta quarta-feira?

Ele usou da elegância, bom-senso e honestidade para construiu sua trajetória de vida exemplar. Acompanhe essa trajetória empolgante escrita a próprio punho pelo autor

Carlos Roberto Francisquini
Por: Carlos Roberto Francisquini Fonte: Jayme Seixas
02/03/2022 às 16h49 Atualizada em 03/03/2022 às 13h28
Quem é Jayme Seixas que completa 94 anos nesta quarta-feira?
Jayme Seixas - Foto: arquivo familiar

 

Por Jayme Seixas

 

"Eu nasci em 02 de março de 1928.

Aos 7 anos entrei para a escola da Fazenda Aparecida e fiz até o segundo ano, no terceiro repetido eu fiz na casa da vovó Rosa Duchini (mãe da minha mãe Ana Gomes Seixas) em Serrana-SP, onde nasci.  O quarto ano e o diploma eu tirei em Ribeirão Preto – SP, no Terceiro Grupo Escolar da Vila Tibério, para isso a minha família mudou-se para Ribeirão Preto –SP, por um ano. 

Voltamos para Estação Domingos Vilela da Mogiana de Estradas de Ferro, ao todo oito irmãos, sendo dois homens e seis mulheres.  Nesta minha narrativa, a primeira etapa é na região de Ribeirão Preto -SP e a segunda etapa é na região de Jacarézinho e Cambará no Paraná.

Na adolescência eu e minhas irmãs fizemos muitos trabalhos manuais como carregar vagões de tijolos, empilhar lenha e eu transportar abacates da Fazenda Aparecida, para a estação de Domingos Vilela (eu tinha um carrinho com dois animais). Pratiquei o telegrafo espanholeti (o outro é Morse) por seis meses e aprendi.

Em seguida fui admitido pela Cia. Mogiana de Estrada de Ferro, trabalhando junto ao meu pai, que era o chefe da estação na época. Fiquei por quatro anos trabalhando na Mogiana e sai por ocasião da convocação da prestação do serviço militar; seria removido para a cidade de Ribeirão Preto - SP, para poder fazer o tiro de guerra.

E como o meu salário era muito baixo acabei me demitindo, num momento que estava sendo convidado para trabalhar no escritório da Fazenda Aparecida, mesmo não tendo nenhuma experiência.  O Sr. Nevio, gerente que estava me contratando me prometia dar as coordenadas e acabei assumindo o emprego.

Comecei trabalhar no escritório e o professor desapareceu. E os dias foram passando, com folha de pagamento para o final do mês e aí me vi apertado, quando então resolvi vasculhar todo o arquivo do escritório que não foi tão difícil de passar a entender.  A máquina de escrever me atrapalhou um bocado, eu tinha que preencher as fichas tríplices e errava muito, um bom desperdício de material, até que acabei aprendendo também.

Fim do mês já estava tudo pronto para o pagamento dos empregados de mais ou menos  60 pessoas. Sorte minha foi eu ter entrado bem no começo do mês, dando tempo para o aprendizado. Trabalhei quatro anos nessa fazenda agrícola que inicialmente era do Dr. Oscar Thompson Filho,  depois do Duque Everaldo Salviati, tendo o seu filho Duque Forese Salviati como gerente, com quem eu me dava muito bem, pessoa legal e por último a família Lino Morganti, que além desta fazenda eram proprietários da Fazenda Guatapará e usina de açúcar  na região de Piracicaba - SP.  

 

O que motivou a minha saída do emprego foi a minha família ter se mudado para a Usina Jacarezinho, na cidade do mesmo nome aqui no Paraná. Desejei também vir pro Paraná e não podia deixar a Tereza Poloni, minha namorada para trás, acabei casando no dia 25 de setembro de 1951 e como viagem fomos até a Aparecida do Norte (pagar promessa que a minha mãe fez para mim) e em seguida rumamos para a Usina Jacarézinho.

Jayme Seixas e Tereza Poloni em registro fotográfico de 2010 - foto arquivo de família

 

Comecei trabalhando no almoxarifado da Usina Jacarézinho, mesmo não entendendo nada de almoxarife.  Eu tinha como ajudante um menor de idade e o horário era de sol a sol, ou seja: das 5 horas e meia da manhã até as 21 horas da noite.  Essa situação estava me deixando meio encabulado achando que não estava muito legal pra mim. 

Ainda por cima, noite adentro, tinha gente que ia à minha casa pedir para abrir o almoxarifado, pra ver se encontrava tal peça, visto que a usina trabalhava a noite também. Estava ficando sem saber o que fazer, não era fácil essa parada.  Mas acredito que o Senhor, olhou por mim e um dia o Dr. Oscar Thompson, me deu uma informação e ao mesmo tempo uma pergunta: a Cia. Melhoramentos, está comprando a Fazenda São Francisco (antiga Concordia) e lá vai precisar de um escriturário, você quer ir pra lá ou continuar aqui? 

Fiquei de dar resposta depois para perguntar para a Tereza Poloni Seixas (esposa), o que ela achava.  Achou que devíamos ir e ai aceitei mudar para a São Francisco.  Já morando lá veio o Sr. Artemio Castro de São Paulo, para dar uma orientação na escrituração.  Essa fazenda era de bom tamanho, mais ou menos 1.500 alqueires paulista, tinha bom divertimento como futebol, cinema toda semana, bocha, bailes mensais, etc. e eu que dirigia essa parte social da fazenda. 

Fiquei lá por 10 anos e sai pelo seguinte: como o administrador Vitorio Brustolim era semi analfabeto, toda orientação técnica que o gerente Oscar Thompson dava a ele eu tinha que estar perto para gravar a orientação (para o Sr. Victorio Brustolin, adubo era uma coisa só, não entendia de NPK e suas dosagens, aí eu era o socorro e com isso aprendi muito, até que um dia apareceu na fazenda o Dr. Gastão Mesquita Filho e me propôs ser administrador da sua Fazenda Caiuá. Pedi um tempo e conversei com o Tereza Poloni Seixas (esposa) que gostou muito da idéia.  Respondi que aceitava a nova tarefa.   

Mudei para a Fazenda Caiuá no final de 1961, ali por volta novembro. 

Nosso primeiro dia na casa grande do administrador, isto a noite, por volta das 22 horas, chega o guarda noturno e bate na janela do nosso quarto dizendo:  Sô Jayme, na colônia de tábua, no baile que estão fazendo, o fulano de tal deu uma facada no ciclano  e  está com a barrigada de fora. 

Sim, o que devo fazer?  Chamar à polícia!  Foi o que eu fiz naquele telefone ruim de antigamente, de manivela e que precisava gritar tão alto pro outro escutar em Cambará!  Esse assunto ficou resolvido sem necessidade de ir à colônia acertar detalhes. Naquele momento eu ainda não conhecia ninguém da fazenda, era um estranho. Mas no espanto falei pra Tereza, aonde nós viemos nos enfiar hein, será que é sempre assim?

Eu sei que acabamos dormindo meio assustados.  E no dia seguinte comecei a tomar posição e com isso fiquei por 30 anos consecutivos.  Tive uma vida bem saudável nessa fazenda, dormia cedo e levantava cedo também, tínhamos horta no fundo do quintal, que fornecia verduras para os empregados, tínhamos leite com abundância e todos os seus derivados, um pomar grande na sede e depois fizemos o nosso pomar no fundo do quintal. 

 

Jayme Seixas entre seus companheiros de Rotary Club de Cambará 

 

Em 1969 entrei para o Rotary Clube e nunca mais saí, todas as sextas feiras às 20 horas tínhamos reunião, onde eu passava a conhecer o delegado, o juiz de direito, o promotor e por aí afora. Fui por alguns anos jurado do Fórum, participando em diversos jurados. O Dr. Gastão Mesquita Filho, que era um patrão excepcional gostava de ajudar os seus colaboradores (na época os chefes de serviços) e proporcionava a aquisição de áreas agrícolas a todos com a Cia. Melhoramentos intermediando, como no caso da área da Sorocabana, onde comprei os meus primeiros 10 alqueires, depois comprei mais 15 alqueires do meu vizinho Irmãos Marqueti de Itapeva (os pais deles morreram num mesmo dia) e por último mais 6 alqueires com permuta feita com o Atílio Santoro, mas com intermediação da Melhoramentos. 

No final da década de 70, morreu o dono da Caiuá, o Dr. Gastão Mesquita Filho e a dona Isaura  Mesquita (esposa), indicou o Dr. Luiz Branco Filho, para gerenciar a fazenda, médico sem experiência no ramo agrícola, mas que foi aprendendo e por último já estava bem bom de conhecimento, com o qual convivemos muito bem, pessoa muito educada e que sabia respeitar os outros (hoje falecido também).

E 10 anos depois morre também a Dona Isaura  Mesquita e a partir daí houve a divisão da herança, Dr. Luiz Branco Filho, ficando com a sede da fazenda, o Dr. Gastão Mesquita Neto, com o  Ipê, o Dr. Paulo Nelson Pereira, o Bley e a filha Isaura Mesquita, com a colônia de tábua e escola.

Foi nesse exato momento que eu resolvi não trabalhar mais na fazenda, talvez pudesse continuar com o Dr. Luiz Branco Filho, mas preferi não mais, mudando-me para a cidade de Cambará - PR, na casa da Ana Regina Seixas, (filha), onde fiquei por 15 anos. Foi um acerto amigável e dentro da lei, continuando amiga da Dona Cora Mesquita Branco, até hoje (toda vez que vem a fazenda chega até nossa casa). Na Fazenda Caiuá, a Tereza Poloni Seixas (esposa), muito polivalente e de minha confiança, me ajudou muito na parte social, administrativa, atendimento de telefonia, tarefas de organização e recepção da Fazenda.

 

No ano 1991 mudei para Cambará como disse acima, mesmo morando em Cambará – PR, eu continuei administrando a Fazenda Ipê para o Dr. Gastãozinho (por oito anos), com o Antônio - vulgo Índio - me ajudando na administração e que foi vendida para o vizinho Gil Rossete; 15 anos depois fiz a minha própria casa aqui perto do morro do Cristo, onde moro na rua Dr. Nelson Bonacin, número 1243, Bairro Morada do Sol, até hoje. 

Nesse meio de tempo ocupei algumas obrigações, como: diretor do sindicato rural patronal (tesoureiro) que no início de 2018, renunciei por questão particular, Santa Casa de Misericórdia (algumas posições de colaborador), sócio fundador da Cooperativa Sicredi, vários mandatos membro da diretoria, por último Coordenador de Núcleo, fui por 11,5 anos conciliador do Fórum local, era a dupla Jayme e Waldir, uma audiência para cada um, também não tivemos professor, nos ajustamos com a situação e tivemos algum sucesso na resolução dos problemas, mais ou menos ao redor de 90%. Fui também jurado do mesmo Fórum por vários anos.  

Estou fazendo parte do Conselho Gestor Municipal, das câmaras acesso ao mercado, turismo, comissão de tributação, conselho de desenvolvimento urbano tecnologia e inovação com anteprojeto enviado a Câmara Municipal para estudarem e votarem, fui procurador da Cia. Melhoramentos Norte do Paraná por muitos anos que compreendia fazendas e loteamentos nos municípios de Jacarézinho e Cambará. Continuo aqui em Cambará na minha casa perto do morro do Cristo, já sem muitas obrigações, faço as minhas caminhadas no Parque Alambari, três vezes por semana, percorrendo 4.500 metros em aproximadamente 57 minutos (antes fazia em 45 minutos)  no período da tarde ou final do dia. 

O meu Sítio Caiuázinho, que administrei por 40 ou mais anos acabei arrendando para a Usina Jacarézinho, plantar cana no sistema de parceria, que passou a ser o meu complemento de aposentadoria, visto que a do INSS perde poder de compra todos os anos, por culpa dos administradores desonestos que temos aqui no nosso país.   Encerrando, hoje eu com 94 anos de idade e o amanhã só Deus sabe.

Agradeço ao Senhor, por me encontrar aqui neste mundo maravilhoso e que aprendi a amar esta cidade em que moro de nome Cambará - PR, e que ultimamente vem se desenvolvendo a galope em todos os sentidos!  O segredo de uma vida tranquila me foi baseado em três pilares: CERTO, ERRADO e CONSEQUENCIAS,  me dei bem e em toda minha  vida, durmo com a consciência tranquila".

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