Por Carlos Roberto Francisquini
Foi entregue, oficialmente, na noite desta terça-feira, 11 de abril, à empreendedora cambaraense Maria do Carmo de Almeida Francisquini, carinhosamente chamada de Dona Carmen, proprietária da Marmitaria Canta Galo, o prêmio Mulher Extraordinária, a maior honraria oferecida pelo Sistema Fecomércio Sesc Senac PR.
O evento oficial aconteceu em Foz do Iguaçu e reuniu mais de mil mulheres. Além de promover a integração e networking entre as empresárias o acontecimento social contou com a presença do presidente do Sistema Fecomércio, Darci Piana entre outras autoridades e personalidades públicas.
A história de vida da cambaraense Maria do Carmo de Almeida Francisquini foi a escolhida entre as integrantes da Câmara da Mulher Empreendedora e Gestora de Negócios de Cambará para representar o município no evento Estadual da Fecomércio em Foz do Iguaçu.
Por recomendação médica, Dona Carmen não viajou para Foz do Iguaçu para receber o prêmio e foi representada na ocasião por Clau Guerra Francisquini.
Dirigida por Olivia Della Mura, a CMEG de Cambará promoveu um encontro, na noite desta terça-feira, 11 de abril, no Hotel Bourbon de Cambará, para oficializar a entrega do troféu para a homenageada. Participaram do ato simbólico, Olivia Della Mura, Célia Fachinelli, Amanda Ribeiro e Clau Guerra Francisquini. A presidente da CMEG de Cambará justificou que o local era também para homenagear Dr. Alceu Vezozzo, grande entusiasta e principal articulador para a instalação da Câmara da Mulher Empreendedora e Gestora no município.
"Temos muito a agradecer ao Dr. Alceu Vezozzo e dizer a ele que vamos fazer o que for necessário para manter viva essa chama que ele acendeu em Cambará", resumiu.
Maria do Carmo recebeu o troféu Mulher Extraordinária, mimos e a revista onde está registrada parte de sua história.
Emocionada, ela agradeceu o carinho que recebeu e disse que não esperava que sua história de vida chegasse tão longe.
“Nem sei o que estou sentindo, não sei o que dizer”, diz ela emocionada.
Uma semana antes da viagem à Foz do Iguaçu, Mara Mello, Diretora do Sindilojas e uma das grandes apoiadoras das CMEGs de Cambará e Jacarezinho, promoveu um jantar especial para homenagear as duas representantes da região num evento social que aconteceu no elegante Restaurante Mollinis.
Na ocasião, Carla Doriana, de Jacarezinho e Maria do Carmo de Almeida Francisquini, de Cambará, foram homenageadas. Neste evento, Dona Carmem recebeu o trofeu das mãos de Antenor, gestor do Sesc de Jacarezinho.
"Ela merece", disse Antenor na ocasião.
Confira abaixo parte da história de vida que faz da empreendedora Maria do Carmo de Almeida Francisquini uma Mulher Extraordinária.
Fala aí, Empreendedora
Da lida no campo ao desafio de empreender na cidade, a história de Maria do Carmo e a marmitaria Canta Galo
Para quem vê a cozinheira Maria do Carmo de Almeida Francisquini, na correria para atender sua sempre crescente clientela, na já famosa Marmitaria, Canta Galo, não imagina os desafios que ela enfrentou para conquistar seu espaço.
Vale lembrar que é modesto o seu restaurante, mas é o seu tesouro. É neste ambiente que ela recebe muitos elogios pela excelente comida que faz. Mas, o maior patrimônio de dona Carmem, é seu circulo de amizades, seus filhos, netos e o cada vez mais crescente número de admiradores.
Para quem não sabe, Dona Carminha, como é carinhosamente conhecida, é filha de Diamantina e Romeu. Nasceu numa manhã de inverno do dia 16 de julho de 1952, na provinciana Pirapozinho, no interior do Estado de São Paulo. Filha mais velha de uma família de três irmãos, teve a responsabilidade, desde tenra idade, de cuidar dos caçulas, Anésio e José Aparecido, enquanto os pais saiam para o trabalho na roça. Passou a infância assim, e pouco pode estudar.
Numa tarde de 24 de agosto de 1964, Carmem, então com 12 anos, vive o que classifica ser seu maior revés: Perde seu pai.
O que já era difícil, piorou. As dificuldades se acentuaram, mas a família, sempre unida, segue a vida. Nesta época, passou a ajudar sua mãe na linda no campo e fez de tudo um pouco, colheu milho, capinou café, colheu algodão, atuou no corte de cana e quando se mudou para a cidade, foi empregada doméstica, esta última atividade até poucos anos atrás.
Não havia completado 17 anos, casa-se com Vicente de Paulo Francisquini, volta a residir na área rural e, juntos, constroem uma numerosa família com 10 filhos. A separação veio algumas décadas depois, mas esta é uma outra história.
Recém casada e morando no sítio, Carmem passa a ser uma das responsáveis pela alimentação da comitiva de empregados dos Francisquini, família que administrava grandes áreas de terra sob a regência do corajoso Antonio Francisquini, seu sogro. “Tempos difíceis” contou.
Naquela época, assim como nos dias atuais, o principal problema era, e é, lidar com as finanças. Talvez tenha sido a incerteza que a fizera lapidar sua principal arte: a culinária.
Como residia numa propriedade rural, arroz e feijão eram abundantes. O problema era compor a mesa com as misturas. Nem sempre havia frango, porco na combinação almoço e jantar. Aí entrava em cena a artesã Carmem. De uma flor de abóbora e um ovo caipira mexido ela oferecia aos filhos uma bela refeição.
Perguntada como fazia aquilo, ela responde - “Minha mãe sabia, como poucas, criar receitas. Aprendi com ela” comenta.
Com a casa sempre cheia, filhos, amigos dos filhos, netos e parentes, as panelas, sempre grandes, nunca ficavam vazias e jamais alguém saiu sem se alimentar.
Foi numa dessas visitas de amigos que um ex-funcionário da Panco, de nome, Gilmar Aparecido de Freitas. Ele almoçou naquele domingo e não se cansou de elogiar o sabor e aroma da comida e fez um pedido que mudaria para sempre a vida de Dona Carmem.
Gilmar almoçava num restaurante da cidade e sugeriu a Dona Carmem que cozinhasse para ele, na condição de efetuar o pagamento mensalmente.
Carmem relutou cobrar pela comida, afinal na sua casa onde come dez, há sempre um lugar para mais um.
O trato foi feito e as refeições eram entregues na portaria da empresa. Gilmar, muito amigo de Dona Carmem, fez, ao melhor estilo boca-boca, a publicidade da comida. Caminhoneiros e funcionários da empresa passaram a pedir as refeições e os pedidos se multiplicaram.
Na informalidade, Dona Carmem e suas filhas, faziam a comida na própria cozinha da residência e as entregavam. Logo a noticia de comida boa a preços atrativos ganhou as ruas da cidade e cozinha que não era grande, ficou pequena e logo se mudaram para o prédio onde hoje está instalada sua marmitaria.
O nome, Canta Galo, é uma referência ao som da ave que a acordava todos os dias pela manhã. “Gosto deste nome, porque o cantar do galo ao amanhecer me faz lembrar a minha infância” comenta com singeleza.
O negócio cresceu e a busca por profissionalização e capacitação se fez necessária. Foi então que Dona Carmem, com apenas o 4º ano primário, passou a freqüentar as reuniões do SEBRAE. Foi lá que as ideias se abriram à sua frente. E foi no SEBRAE que ela contou sua história. Carmem e seu sonho de empresária passaram a ser referência no grupo de estudos. Foi homenageada em Londrina por seu empreendedorismo. Passou a ser a célula do projeto em Cambará.
“Nunca na minha vida me senti tão valorizada. Agradeço primeiramente a Deus por nunca me fazer desistir. Agradeço às minhas parceiras de cozinha que, sem elas, não seria possível o meu sonho. Não posso deixar de agradecer aos meus amigos que apreciam diariamente minha comida. Por fim, quero agradecer ao SEBRAE por me oportunizar esta nova experiência e por ter me ajudado a me enxergar como empreendedora” descreve.
A história não acaba aqui. Ela sonha com um ambiente de trabalho mais adequado, uma bela e arejada cozinha, um salão mais amplo para poder acomodar melhor sua clientela, entre outros sonhos, aparentemente grandes para ela, mas que, certamente, estão mais próximos de se realizar do que ela mesma imagina.
Enquanto isto não se concretiza, Dona Carmem continua a espalhar o aroma e o sabor de seus temperos na cidade.
“Servir bem, para servir sempre!”, costuma dizer
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