Por Carlos Roberto Francisquini
A edição deste ano da Feira Cultural do Colégio Cívico Militar Dr. Generoso Marques de Cambará, realizada na manhã e tarde da última sexta-feira 22 de novembro, três estudantes se destacaram ao apresentar um trabalho que uniu História, reflexão crítica e a análise de temas fundamentais para compreender o passado e suas repercussões no presente: a escravidão, o racismo e as grandes navegações.
Os alunos Renan Rogério da Silva, Ana Beatriz de Castro Ricardo e Miguel Arioso, sob a orientação da professora Marinês Crispin, construíram um painel informativo e educativo, que traz à tona as complexidades desses fenômenos históricos, especialmente no contexto dos navios negreiros e das expedições marítimas realizadas entre os séculos XV e XVI.
Navio Negreiro: O Horror da Escravidão
O "Navio Negreiro" é um termo que se refere aos embarques de seres humanos trazidos da África para o continente americano durante o período da escravidão. Os estudantes enfatizaram em sua pesquisa que os navios negreiros não eram apenas transportadores de mercadorias, mas de vidas humanas tratadas como mercadorias.
Entre os séculos XVI e XIX, mais de 12 milhões de pessoas foram forçadas a atravessar o Atlântico em condições desumanas, com sobreviventes vivendo em porões estreitos, escuros e insalubres, onde eram amontoados e acorrentados. Muitos morriam durante a viagem devido a doenças, maus-tratos, falta de comida e água, ou até mesmo suicídios.
Renan, Ana e Miguel explicaram que os africanos, ao chegarem ao continente americano, eram despojados de seus pertences, vendidos como mercadoria e forçados a trabalhar nas plantações de açúcar, nas minas ou nas fazendas.
A abordagem dos alunos visou conscientizar sobre as consequências dessa prática brutal, que, além de ceifar milhões de vidas, gerou um legado de racismo que ainda persiste até hoje, refletido nas desigualdades sociais, econômicas e culturais que marcam a sociedade moderna.
Grandes Navegações: A Busca por Riquezas e Novos Territórios
O trabalho também destacou as Grandes Navegações, um marco na história da humanidade, que começou no século XV com as expedições portuguesas. O objetivo era explorar novas rotas comerciais e expandir os domínios territoriais das potências europeias.
As viagens marítimas, inicialmente lideradas por Portugal, tiveram como um dos principais interesses a busca pelas especiarias, como pimenta, gengibre, canela, cravo, maçã e noz-moscada, que eram valiosas e alimentavam o comércio europeu.
Ao longo de sua pesquisa, os alunos reforçaram que, enquanto as potências europeias buscavam riquezas no Oriente, elas também estabeleceram colônias no continente africano, onde começaram a explorar as populações locais para o tráfico de escravizados. O encontro entre europeus e africanos não se deu apenas pela busca por especiarias, mas também pela desumanização de milhares de seres humanos, que se tornaram parte de um sistema econômico global baseado na exploração e na escravidão.
Racismo e Escravidão: Uma Realidade Perdurável
O estudo do tráfico transatlântico de escravizados e das Grandes Navegações levou os alunos a refletir sobre o legado do racismo. O trabalho da Mostra Cultural de Cambará não só apresentou dados históricos, mas também procurou promover a reflexão crítica sobre como essas práticas moldaram o mundo contemporâneo.
"A escravidão não foi apenas um período de nossa história, mas algo que perpetuou estigmas e preconceitos que ainda afetam a sociedade brasileira e mundial", destacou a professora Marinês Crispin, que orientou os alunos ao longo da pesquisa.
O legado do racismo, que surgiu com o tráfico de escravizados, foi e continua sendo um dos maiores desafios das sociedades modernas. A discriminação racial, o preconceito e a marginalização das populações negras têm raízes profundas no período das grandes navegações e no comércio de seres humanos, que não terminou com a abolição da escravatura no Brasil, em 1888, mas que continua a se manifestar de diversas formas.
Conclusão: A História que Precisa Ser Contada
Com essa pesquisa, os estudantes de Cambará trouxeram à tona a importância de lembrar e refletir sobre o passado para compreender o presente. O projeto, que abordou a relação entre a escravidão, o racismo e as grandes navegações, não foi apenas uma forma de rever os fatos históricos, mas também uma maneira de conscientizar a comunidade escolar sobre os impactos duradouros dessa história.
Segundo Renan Rogério da Silva, "entender o passado nos ajuda a melhorar o futuro e a lutar contra as injustiças que ainda persistem".
Ana Beatriz de Castro Ricardo e Miguel Arioso reforçaram que o trabalho foi uma oportunidade única de aprender sobre temas fundamentais e ao mesmo tempo provocar uma reflexão no público.
"A Feira Cultural é um espaço para nos expressarmos e levarmos os outros a pensar sobre temas tão importantes e que ainda nos afetam", disseram os estudantes.
A Feira Cultural do Colégio Cívico Militar Dr. Generoso Marques de Cambará mostrou mais uma vez que a educação vai além da sala de aula, sendo fundamental na formação de cidadãos conscientes e críticos, capazes de olhar para a história e fazer dela um ponto de partida para um futuro mais justo e igualitário.
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