Por Carlos Roberto Francisquini
A política local de Cambará viveu um episódio inédito nesta sexta-feira (6), quando Adalto Manzato foi eleito, diplomado e cassado antes de sequer tomar posse como vereador. O motivo? Uma violação da cota de gênero, decisão da Justiça Eleitoral que determinou a anulação da eleição de Manzato e declarou Cassiano Menezes (PV) como o verdadeiro vencedor.
Manzato, que havia sido eleito para ocupar uma cadeira na Câmara Municipal de Cambará, viu seu sonho frustrado por um erro que teve grande repercussão política. A Justiça Eleitoral determinou que ele não poderia ocupar o cargo devido à irregularidade relacionada à cota de gênero, essencial para garantir a participação feminina na política. Com a decisão, o candidato do Partido Verde, Cassiano Menezes, foi declarado o legítimo vencedor.
O episódio ganhou contornos ainda mais polêmicos devido ao protagonismo do presidente do PRD, Rafael de Morais, que cometeu um erro primária ao manter uma candidata em sua chapa que já havia manifestado publicamente sua desistência da campanha, alegando problemas de saúde. De Morais ignorou o pedido de substituição da candidata, mesmo com tempo hábil para fazê-lo, o que gerou a situação de nulidade dos votos para o PRD e a consequente alteração no quociente eleitoral e na recontagem dos votos, Manzato ficou de fora.
Além disso, o partido Avante também teve problemas relacionados à cota de gênero, o que resultou na anulação de seus votos, levando à intervenção da Federação composta por PT, PV, PSOL e PCdoB. A ação judicial impetrada por essa Federação foi rapidamente acolhida pela Justiça, que recontou os votos e decidiu pela cassação do diploma de Manzato.
Em entrevista ao Jornal Circulando, o Juiz Eleitoral Dr. Rafael da Silva Melo Glatz comentou sobre a decisão inédita no caso de Cambará, ressaltando que, apesar de sua complexidade, o que pesou para a Justiça foi garantir celeridade e clareza.
"Esse compromisso com a celeridade e a clareza da Justiça Eleitoral é fundamental, não apenas para garantir que o processo transcorra de maneira transparente, mas também para evitar que a comunidade sofra qualquer tipo de prejuízo", afirmou o magistrado.
Dr. Rafael da Silva Melo Glatz informou que, como consequência do caso inédito envolvendo o município de Cambará, os representantes legais dos partidos e as pessoas envolvidas ficarão inelegíveis por 8 anos. O magistrado ressaltou que, além de ser uma medida necessária para garantir a integridade do processo eleitoral, essa decisão visa assegurar que casos como este não volte a acontecer.
O caso, que é inédito na jurisdição, exige atenção redobrada devido às suas possíveis implicações para o município.
Dr. Marcel de Alexandre Coelho, do Ministério Público local, também presente na recontagem dos votos, destacou a eficiência da Justiça Eleitoral e a ampla divulgação da cota de gênero entre os representantes dos partidos.
"A decisão reflete a seriedade e a transparência que são essenciais para assegurar que todas as partes envolvidas, seja o eleitor, os candidatos ou as autoridades locais, possam confiar na decisão tomada", complementou.
O impacto político da decisão é significativo. Com a cassação, a frente de oposição ao governo de Walcir Joaquim garantiu maioria na Câmara Municipal para a próxima legislatura, configurando uma mudança importante no cenário político local.
O prefeito de Cambará, embora tenha lamentado a situação de Manzato, reconheceu o trabalho da Justiça Eleitoral e desejou sorte ao novo vereador, Cassiano Menezes.
“Sinto pelo Manzato, conheço o seu caráter e tenho certeza de que ele faria um excelente trabalho na Câmara. No entanto, a questão é a Lei, e a Lei deve ser cumprida. Cumprimento a Justiça Eleitoral pelo trabalho sério que sempre fez em Cambará e desejo sorte ao vereador Cassiano, que ele represente seus eleitores e o povo de Cambará com dignidade, lealdade e respeito”, comentou o prefeito.
Prefeito Walcir disse ainda que Manzate terá espaço em seu governo.
“Não falei com ele pessoalmente ainda, mas teremos uma grande satisfação de tê-lo no governo nos ajudando a promover as mudanças que Cambará precisa”, informou.
Manzato, que havia se candidatado quatro vezes para o cargo de vereador e finalmente conseguiu ser eleito em 2024, usou suas redes sociais para se manifestar sobre o episódio. Em um tom de frustração e determinação, ele agradeceu a confiança dos eleitores e lamentou não poder tomar posse devido ao erro administrativo, mas se comprometeu a continuar lutando pela cidade.
"Meus amigos e eleitores, quero agradecer imensamente a confiança de cada um de vocês que me elegeram com tanto carinho e esperança. Infelizmente, este ano, não tive a oportunidade de ocupar a cadeira que conquistei com seus votos, por conta de um erro administrativo — ou quem sabe, por ambição de poder. Mesmo assim, isso não vai me parar! Continuarei trabalhando por vocês e pela nossa cidade, sempre com o objetivo de melhorar a vida de todos e restaurar a dignidade do nosso povo. 2028 está logo aí, e podem ter certeza de que voltaremos ainda mais fortes! Contem sempre comigo, porque mesmo fora da Câmara Municipal, seguirei sendo o vereador de vocês, lutando incansavelmente por um futuro melhor para todos. “22.222 patinhos na lagoa e 22.222 na urna!”
O episódio traz à tona não apenas questões jurídicas e políticas, mas também revela o quão delicados podem ser os bastidores das campanhas eleitorais.
Rádio Circulando