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OS TRÊS REIS MAGOS NÃO ERAM REIS, NEM ERAM TRÊS

Professor Cesar Mota, explica

Carlos Roberto Francisquini
Por: Carlos Roberto Francisquini Fonte: Da redação
06/01/2023 às 07h52 Atualizada em 07/01/2023 às 11h23
OS TRÊS REIS MAGOS NÃO ERAM REIS, NEM ERAM TRÊS
Cesar Mota é professor/historiador, pós-graduado em Ciência da Religião

 

Por Professor Cesar Mota

 

O dia 6 de Janeiro foi, inicialmente, celebrado como dia de Natal. Era designado por Epifania, palavra de origem grega (epiphanei) que significa “aparição” ou manifestação de Deus. O termo antecede o cristianismo: era empregado pela mitologia grega em referência aos deuses que apareciam aos homens como Zeus, Atena, Dionísio, Deméter, Afrodite, Ares e Artêmis. A partir do ano de 354, o Natal passou a ser comemorado no solstício de inverno, 25 de dezembro, originalmente, data da festa pagã ao deus Mitra.

 

O dia 6 de janeiro consagrou-se como Dia de Reis, a Epifania cristã. Está no evangelho de Mateus e só nele que os “magos do oriente” (neste caso as suas capacidades nada teriam a ver com magia. O termo “mago” era usado para adjetivar os homens sábios e eruditos daquele tempo, principalmente aqueles que desenvolveram os conhecimentos sobre os corpos celestes), ficaram sabendo do nascimento de Jesus e seguem uma estrela que os leva até Jerusalém. Lá eles vão até o palácio real e perguntam a Herodes onde é que vai nascer o “rei dos judeus”.

 

O soberano  informa aos magos que o nascimento deve acontecer na cidade de Belém. Então Herodes pede que os magos voltem para confirmar o paradeiro de Jesus. Os magos mais uma vez seguem a estrela, agora até Belém que fica a 10 quilômetros de Jerusalém.

 

Então oferecem ouro, incenso e mirra ao recém-nascido, Jesus. Depois, são alertados em um sonho que não devem contar a Herodes onde Jesus está, e voltam para casa por um caminho alternativo. Herodes, que era ele mesmo o “rei dos judeus”, não queria ser destronado, então mandou seus soldados matarem todos os meninos com menos de dois anos na região.

 

Como se lê, Mateus não se refere aos magos como “reis”, não cita seus nomes nem seus países de origem, não esclarece se eram todos homens e sequer afirma que eram três, mas sim que eram “uns magos”. Por exemplo: não há menção a “reis”, a tradição popular é que definiu isso, porque trouxeram presentes caros.  O evangelho, aliás, nem diz que eles eram três, só se sabe que eram mais de um, já que são mencionados no plural. Os nomes deles também não aparecem no Evangelho de Mateus, as alcunhas “Gaspar”, “Melquior” e “Baltazar” são de textos do século cinco.

 

Segundo a tradição do catolicismo ortodoxo da Síria, foram doze reis magos, já os cristãos chineses afirmam que eram quatro afirmando que um sábio chinês também visitou o menino Jesus.

 

O número três pode ter sido uma dedução simplista por causa dos três presentes. Nada indica, porém, que cada um trouxe um presente. Os reis magos que poderiam ser três, cinco, dez ou mais poderiam ter ofertado os presentes em nome do grupo, e não, individualmente.

 

O manuscrito Excerpta Latina Barbari, de Alexandria, escrito por volta do ano 500, traz uma longa cronologia de governantes desde Adão até o ano 387 d.C. Nele está a mais antiga menção aos nomes dos Magos: Bithisarea, Melichior e Gathaspa. O catolicismo etíope e o armênio, contudo, não concordaram com esses nomes e batizaram os magos com outros nomes. Foi o monge beneditino inglês São Beda, o Venerável (673-735) que em seu tratado Excerpta et Colletanea,  deu forma e origem às figuras dos reis magos.

 

São Beda associou os reis magos a regiões do mundo antigo: Melchior, rei da Pérsia; Gaspar, rei da Índia; Baltazar, o único negro, rei da Arábia. Melchior era velho de setenta anos, de cabelos e barbas brancas, tendo partido de Ur, terra dos Caldeus. Gaspar era moço, de vinte anos, robusto e partira de uma distante região montanhosa, perto do Mar Cáspio. E Baltasar era mouro, de barba cerrada e com quarenta anos, partira do Golfo Pérsico, na Arábia Feliz. Os nomes tinham significado: Melchior quer dizer “Meu Rei é luz”; Gaspar, “Aquele que vai inspecionar”; Baltasar, “Deus manifesta o Rei”. Assim o dia 6 de janeiro consagrou-se como Dia de Reis, a Epifania cristã.

 

 A história dos Reis Magos está povoada de incertezas e de elementos que antecedem o cristianismo. Sequer o Dia de Reis é consenso entre os cristãos. Os gregos cristãos, por exemplo, comemoram no dia 6 de janeiro o batismo de Jesus, enquanto os armênios celebram o Natal nesta data. A história de Mateus sobre os reis magos é vaga e não se confirma historicamente. O episódio, se verdadeiro, seria algo importante demais para constar em apenas um dos evangelhos. Na versão armênia dos reis magos, por exemplo, Gaspar era o mais velho dos três e faleceu na viagem de volta antes de atingir seu país.

 

Foi enterrado em território armênio e para abrigar seus restos mortais construiu-se mosteiro Sourp Kaspari Vank, hoje em ruínas.

 

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 Você sabe o significado da palavra acima e em que língua está escrita?

A língua é o armênio, falada na Armênia, país que faz fronteira com a Turquia, Geórgia, Azerbaijão e Irã. O país é a menor das antigas repúblicas da ex-União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) e o significado da palavra é; FELIZ NATAL.

Isso mesmo, entre grande parte dos armênios fiéis à Igreja Apostólica Armênia, incluindo o Brasil com a Diocese Armênia do Brasil cuja Catedral é a Igreja de São Jorge em São Paulo, com um território da diocese que inclui principalmente São Paulo, Osasco, Rio de Janeiro e várias outras cidades onde vive um grande número de famílias armênias, a festa acontece em 06 de janeiro, data que coincide com a celebração da Epifania, os Reis Magos.

Tradicionalmente, os armênios jejuam durante a semana que antecedem o Natal. Os devotos podem ainda abster-se de comida por três dias antes da véspera do Natal, a fim de receber a Eucaristia com o estômago “puro”.

Mas como essa história aconteceu?

Desde o início do cristianismo e durante os primeiros três séculos, toda a cristandade celebrou o Natal no dia 06 de janeiro.

No entanto, hoje, em muitos países, é comemorado no dia 25 de dezembro. Esta alteração da data foi feita no século IV em Roma por uma necessidade prática. Era neste dia que os romanos comemoravam com grande alegria a cerimônia do Deus-Sol.

Até a segunda metade do século IV, o cristianismo não tinha força para transpor tal espetacular celebração da Roma “pagã”, nem todas as tradições alusivas a data. Os altos dignitários da Igreja ocidental, com a finalidade de colocar a festividade romana no esquecimento, decidiram mudar a data do nascimento de Jesus para o final de dezembro, a fim de coincidir com o culto romano.

Assim, o 25 de dezembro foi imposto a todos os países que tinham Roma como centro espiritual. Os armênios (e outros cristãos orientais) geograficamente distantes e totalmente alheios às festas pagãs de Roma, mantiveram a tradição antiga e até hoje celebram o Natal em 06 de janeiro.

Em 6 de janeiro, os armênios ortodoxos (fiéis à Igreja Apostólica Armênia) se saúdam uns aos outros com a seguinte saudação: “Cristo nasceu e se revelou. A vós e a nós a boa nova.”

A saudação é feita da seguinte forma: (Cumprimento) – “Kristos dzenav iev haidnetsav.  (Resposta) – Tsez iev mez medz Avedis“. (Armênio): Քրիստոս Ծնաւ եւ Յայտնեցաւ. Ձեզ եւ մեզ մեծ Աւետիս). A Armênia foi a primeira nação a adotar o cristianismo como religião oficial de Estado, ainda no ano de 301 D.C com São Gregório “O Iluminador” e encarna uma das heranças mais antigas do cristianismo no mundo.

A Igreja Apostólica Armênia é uma das igrejas orientais mais antigas do mundo e possui o seu próprio Patriarcado, localizado em Etchmiadzin, na cidade de Yerevan, capital da Armênia atual. 

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